A cada dia mais e mais pessoas sucumbem aos efeitos terríveis do sistema capitalista sob o qual vivemos: o neoliberalismo. Estamos exaustos, insanamente fazendo, fazendo, fazendo… e nunca chegando lá. E não porque não haja onde chegar – não há mesmo! -, mas porque por um lado fomos doutrinados a acreditar que há – que um dia poderíamos chegar àquele lugar ou tempo em que poderíamos viver a vida -, e por outro, porque o sistema neoliberal promove uma concentração de renda tão acentuada, que estamos correndo, correndo, correndo… apenas para (tentar) sobreviver (para a maioria).
E nessa luta, parecemos estar ‘quase todos’ vendo a vida passar sem prazer, sem tempo, sem esperança… sem vida… e isso, pode acreditar em mim, é efeito profundo do neoliberalismo.
Uma forma de viver que não privilegia o que de fato preserva a vida: não temos tempo para nos alimentar bem, dormir bem, cuidar com prazer do corpo, estar em contato com a natureza, sociabilizarmos, contemplarmos a vida. Fazemos o mínimo que nos garanta a sobrevivência já que estamos muito ocupados buscando dar conta de todas as exigências do ‘sucesso’ – o que quer isso seja – e do imperativo da visibilidade e da conexão em rede; demandas da vida na contemporânea sociedade midiática neoliberal.
Quando numa entrevista, em 1981, Margaret Thatcher disse que “a economia é o método, o objetivo é mudar os corações e as almas”, referindo-se ao neoliberalismo, talvez o mundo não tenha levado tão à sério quanto deveria. Pouco mais de 40 anos depois, estamos nesse mundo, onde o neoliberalismo mudou a tal ponto a dinâmica social no ocidente, que podemos considerar que ‘corações e almas’ foram de fato capturados pelo sistema econômico.
O objetivo sempre foi o de moldar o indivíduo, extrapolando os conceitos econômicos e empresariais para a vida social, familiar e comunitária de cada um, para a relação mesma com sua percepção de si, sua concepção de existência, reduzindo a vida a um processo “utilitário, eficaz e vitorioso” que permeia todas as relações e esferas da vida.
Esse mundo no qual é preciso ser alguém, conectar-se com cada vez mais pessoas em rede, estar sempre alerta para as últimas novidades, informações, mudanças no trabalho e na vida cotidiana, tem nos deixado cada dia mais exauridos, concomitantemente ao processo de estarmos cada vez mais imersos nas redes digitais e menos concentrados em ocupar o espaço-tempo do nosso corpo. Cresce a sensação de que estamos sempre precisando de férias, de descanso, de “desaparecer” por um tempo.
E estamos desaparecendo. De nós mesmos. De nossos corpos. De nossa sensibilidade. Estamos todos dopados! Apressados, inconscientes, sobrecarregados…
Precisamos resgatar-nos da ‘terra devastada’, como fala Stanley Keleman, onde ‘as águas do soma não estão mais disponíveis para nós”, porque nos afastamos dos nossos corpos, do nosso sentir, da consciência do si-mesmo. Que precisa de tempo lento, contemplação, meditação, para sentir no corpo e se fazer consciente da consciência. Aquele lugar onde me percebo, me sinto, me penso, me observo…
Não vai acontecer num passe de mágica. Mas precisamos encontrar novos caminhos de encantamento da vida. Nas cotidianices, como cunhou Eliane Brum. Nos espaços de tempo lento que pudermos encontrar em nossas vidas. Cultivá-los. Diminuir o consumo de informação – real, oficial esse tá? rs – mesmo! Menos canais, mais profundos e confiáveis economiza um tempo e energia danados.
Nos perguntar serião quais são nossos valores e para onde estamos indo na vida com as escolhas que estamos fazendo. Simplificar a vida. As redes. O consumo. Refazer comunidades verdadeiras.
O feminino, o não-fazer, o escuro, o caminho para dentro de nós, a Terra, a comunhão, o circular… estão pedindo passagem. Estão implorando para ter espaços cada vez maiores em nossas vidas.
Eu acredito que a mudança do sistema é o necessário, e que virá sob a influência de Plutão em Aquário + o encontro entre Júpiter e Urano em Touro em 2024, e se dará através dos movimentos coletivos. Mas… ‘enquanto isso na sala de justiça’ precisamos cuidar das delicadezas da vida. Cuidar de nossas almas sensíveis para que não sejam engolidas pela ‘máquina de moer’ do neoliberalismo.
Sigamos corajosa e calmamente! 🙂