O complexo de perfeição quase sempre se manifesta numa Persona bastante rígida, com um auto nível de exigência sobre si mesma e muitas vezes sobre os outros também. Qualquer erro, deslize, vergonha… vem acompanhado de um duro chicote sobre si. (e/ou uma crítica sobre o outro, mas o complexo de perfeição tem dificuldade de ver isso!)
Infâncias doloridas, com sentimentos de inadequação, abandono, excesso de crítica, pouco acolhimento podem estar por trás do complexo de perfeição. É como uma fantasia infantil de que se fôssemos (formos) perfeitos, aqueles sentimentos horríveis da infância (e talvez ainda presentes) nunca mais nos acometeria. Seria nosso salvo conduto. Nossa varinha mágica. A perfeição!
E seguimos nos impondo altas e inalcançáveis metas como se fosse o mínimo, o óbvio, o ‘standard’… quanta dor a cada ciclo repetido de frustração por não alcançar tais objetivos, que já de saída não poderiam ser alcançados, e então lançar mão do chicote outra vez…
E volta o sentimento de não ser bom o suficiente para ser amado, o de ser inadequado, de não pertencer, de solidão. Ou seja, o chicote fruto da (não) perfeição auto-imposta é igual ou maior à própria dor infantil que tentamos garantir que não mais aconteceria se fôssemos perfeitos. Dá para perceber o círculo vicioso?
Racionalizar o sentir, transformar tudo em explicações e estar em constante estado de defesa para não sentir a dor. E senti-la mesmo assim. Não perceber o complexo de superioridade (arrogância mesmo) quando esperamos de nós (ou nos cobramos) a perfeição que vem como forma de compensar o complexo de inferioridade de nos sentirmos desajustados, desamados, desvalorados…
Você já esteve (está) nesse lugar??
Eu já. Por muito tempo. E claro que ainda de vez em quando, óbvio, uma vez que o complexo nunca morre… É um eterno descortinar, conscientizar, transformar…
Mas nunca mais como era antes de conhecer o Tantra Yoga da Caxemira, por Mariette Raina (a quem sou profundamente grata) em 2016. Depois dali, ‘meu’ Jung, minha prática clínica, meu processo terapêutico e meu complexo de perfeição nunca mais foram os mesmos.
Aprender a simplesmente acolher a consciência, olhar para toda e qualquer situação, experiência, sensação, encontro ou desencontro como uma linda (ainda que dolorida) oportunidade de ampliar a consciência. Nada mais. Observar. Observar-se. Sentir-se. Acolher-se.
Olhar de fora de si para si – o que Jung chama de ter consciência da consciência -, em funcionamento. Observar a dinâmica psíquica entre opostos que me constituem e se tornam minha peculiaridade de existir no mundo. ‘for goods or bads’. Sem julgamento de certos errados, bons ou ruins. Apenas o que sinto, como sinto, como percebo… gosto, não gosto…
Uau como a vida é mais leve quando não preciso ser perfeita (ou carregar comigo a ilusão/a varinha mágica da perfeição)!
Não acontece como um passe de mágica, mas quando mudo (pouco a pouco, exercitando a consciência) de uma cosmovisão (visão de mundo) em que é preciso ser sempre uma pessoa melhor para se chegar a algum lugar. E quase sempre esse lugar continua sendo a ilusão de que exista algo ou alguém que possa acontecer na nossa vida e que então garantirá o ‘ser feliz para sempre’ ou seja, nunca mais sentir dor – aquela dor de solidão, inadequação, desamor…
Para um olhar para a vida como um caminho contínuo de vivências e experiências – sim por vezes extremamente doloridas, outras que doem de tanta felicidade, simmm – mas um continuum de viver e aprender e ampliar a consciência de si e do todo… simplesmente pelo gozo de fazê-lo e de se maravilhar com quanto ‘mais mistérios há entre o céu e a Terra, do que sonha nossa vã filosofia’!
Acho tão lindo isso. Faz sentido pra você?