“Quando ele toca nesse assunto, não sei o que acontece, mas fico fora de mim, irritadíssima!”
“Essa é uma situação que me chateia bastante, sempre. Fiquei magoada com a atitude dela mais uma vez. Mas agora também não vou ligar mais!”
“Esse final de semana fiz um programa que nunca faria se não tivesse sido ‘obrigado’ por um amigo. O lugar era totalmente fora do circuito que costumo frequentar, mas sabe que eu me diverti à beça? Nunca imaginei…”
O que essas falas tem em comum? São falas reais, ditas no consultório e que expressam sentimentos causados por situações do dia a dia que foram percebidos como reações recorrentes na história de vida daquela pessoa. Uma reação automatizada diante de fatos, circunstâncias, palavras ou pessoas.
Se para situação A, reação B, sempre, sem reflexão e independente de variáveis com certeza presentes, é porque um sintoma de enrijecimento da energia psíquica, da visão de vida e mundo está sendo mostrado.
Para Jung, reagimos de maneira automatizada, inconsciente, em função dos complexos que vão se formando ao longo do processo individual de viver, relacionar-se, sentir. Complexos são experiências afetivas (afetivas porque vem do que nos afeta), repetidas numa mesma direção e que vão formando algo como um nódulo energético, que retém parte da nossa energia psíquica e vital, e que, portanto, direciona nosso estar no mundo. Em função dos complexos, só ouvimos o que queremos e sentimos o que podemos.
Por isso é tão difícil entender a visão de mundo, a conduta, a atitude, a ação do outro. Em cada SER, seus complexos. Para cada complexo, reações inconscientes, autônomas.
Momentos como o atual na história do País e do mundo, nos mostra isso com bastante clareza, não? E para buscarmos paz e entendimento maior entre os seres é muito importante que saibamos como as coisas funcionam em nós, nos conheçamos e possamos ampliar, a cada nova experiência, nosso grau de consciência.
E a partir desse lugar, fazer nossas próprias escolhas de conduta, independentes, diferentes ou iguais, mas conscientes. E não mais viver sendo conduzidos pelos nossos complexos, padrões de comportamento impostos, inconscientes. A psique mais integrada e menos rígida em comportamentos complexos é capaz de se posicionar com clareza e firmeza, respeitando a posição do outro, dialogando, sem se sentir ofendida ou atacada.
Na prática do processo terapêutico não há nada mais valioso do que o movimento que cada um vai fazendo em direção à liberdade de SER, inteiro, independente de…