Hoje faz 21 dias que cheguei na patagônia argentina para estar numa cabana ecológica em meio a natureza, distante 25km de San Martín de Los Andes, a cidade mais próxima. Vim com o objetivo de me desconectar um pouco da pesada rotina da vida diária superconectada e dos cuidados com casa, cachorro, filho etc… e sobretudo sair um pouco da cidade em que vivo hoje e que, de verdade, não me agrada em muitos sentidos, mas sobretudo o clima muito quente e desértico que faz com que mesmo no inverno não me seja muito prazeiroso o clima. Precisava desconectar de tudo isso para reconectar comigo num nível mais profundo.
Já contei um pouco da experiência com o ‘detox Ayurveda’ dos primeiros 7 dias no post ‘estamos todos dopados :(‘, mas quero aprofundar um pouco na experiência desses dias em profunda conexão comigo e com a natureza absolutamente exuberante ao meu redor.
Apesar de ter mantido minhas atividades de trabalho – realizei atendimentos online e praticamente na mesma quantidade das minhas semanas no consultório – priorizei todo o restante do meu tempo para práticas de yoga, longas caminhadas junto à natureza, a anotação cuidadosa de todos os meus sonhos, desenhando-os e analisando qual mensagem eles poderiam estar tentando me passar, e outras anotações que senti importantes ao longo dos meus dias de auto-observação e consciência de mim – foram 108 páginas escritas no meu caderno!
Minha alimentação, que eu mesma fiz a cada dia, foi a mais natural possível, priorizando chás naturais, mel, frutas, sopas, grãos, queijos e pães de boa qualidade. Sem café, sem álcool e praticamente sem acúcar. Procurando me alimentar com consciência e atenção. Observando a cada dia como se comportaram minha digestão, meu intestino, meu corpo em geral, em função do que havia comido, de quanta tecnologia eu havia usado ou quanto movimento eu tinha feito!
Meu sonhos, que foram muitos a cada noite, foram muito vívidos e praticamente monotemáticos, como se meu inconsciente quisesse de fato que eu me desse conta, trabalhasse conscientemente um ponto específico da minha história e dores psíquicas para me levar para um outro nível de consciência e aprendizado na vida. Me lembrar deles e poder cuidadosamente anotá-los, com detalhes, desenhá-los e analisá-los tomou-me mais de 1 hora a cada dia e foi absurdamente enriquecedor.
Teve muito choro e muito riso também, assim do nada… apenas pela sensibilidade e emoção por algo que me tocava. Teve cão perdido na rua que me acompanhou nas caminhadas, me seguiu até em casa e no dia seguinte lá estava ele cheio de amor para dar! Teve gatinho do vizinho que apareceu diariamente para uma visitinha, um carinho e uma lambidinha, me chamando com seu miau, miau…. Teve um olhar diferente a cada dia para a natureza que me cercava. Mesmo caminhando por alguns mesmos lugares, um novo olhar surgia para a mesma face da montanha, com mais ou menos neve, ou a mesma margem do Rio Hermoso, com mais ou menos sol, mais ou menos água, mais ou menos movimento…
Apesar de toda tentativa e intenção, não consegui ficar longe da tecnologia completamente, é claro. Isso parece realmente impossível nos dias de hoje. Primeiro, em função dos atendimentos, obviamente. Mas fora disso ainda é muito difícil ficar completamente distante do WhatsApp, por exemplo. Mandar e receber notícias de filho, mãe, pai, irmão, amigas queridas que querem saber como estamos… trabalho… natural… mas gente como consome o nosso tempo né? Não participo de nenhum grupo que não seja absolutamente essencial porque realmente não gosto; meu telefone fica constantemente no silencioso e uso o WhatsApp com parcimônia, apenas porque é uma ferramenta essencial de comunicação no nosso tempo, mas a consciência que já tinha de quanta energia se esvai com isso aumentou ainda mais aqui. Regular seu uso, conscientemente e cada vez mais, é uma meta para mim!
Li e escrevi muito mais do que na vida cotidiana. Naveguei muito menos do que na vida cotidiana. Que delícia! Também pude perceber que nos dias em que fiz uso da tecnologia até mais tarde meu sono foi muito pior, mais agitado… muito incrível mesmo poder me certificar disso na prática! Passei por aqui um domingo de apagão geral na Argentina e Uruguai. Ou seja, um dia inteirinho sem luz e portanto sem internet. Gente, que delícia indescritível. Parece que o silêncio se aprofundou ainda mais. Um estado de paz e calma muito maior. É difícil explicar com palavras o sentimento. Quando voltou a energia – mais ou menos 8:30 da noite – e entraram várias mensagens no celular, senti um estado de agitação e irritação me invadir, sem mais nem menos. Foi bem loko!
Enfim, essa oportunidade de poder viver a vida com mais tempo para o essencial, com maior espaço para a observação de mim e da natureza, contemplando a vida, me mostrou mais uma vez como a vida que estamos levando – nas cidades, com tanta tecnologia e exposição social, comendo e dormindo mal, trabalhando muito e muitas vezes em trabalhos sem sentido nenhum… – apenas nos desconecta de nós e do Todo. Nos torna cegos, carentes, vazios, ansiosos, vítimas e algozes e nós mesmos e do mundo. Adoecemos.
É urgente repensarmos nosso modo de vida. Desde os pequenos detalhes até as escolhas coletivas. Se quisermos de fato viver e contribuir para uma vida com mais sentido neste planeta, nesta dimensão. Espero, de coração, cada dia mais fazer a minha parte nesse processo!
E por enquanto agradeço a oportunidade e a coragem de ter estado aqui!
Alguns fotos minhas de diferentes vistas dos Andes, do Rio Hermoso e da minha cabana, incluindo ‘my dog’!







