Fascismo não é brincadeira. E ganhou força na história em muitos momentos, sempre quando um sistema/país/império, está se desintegrando. E agora não está sendo diferente. Precisamos chamar o que está acontecendo nos Estados Unidos desde que Donald Trump assumiu a presidência do país, de fascismo. Porque é o que é. Querer eliminar o diferente, definir regras estreitas e rígidas de como todos devem existir, e quem pode ou deve continuar existindo, segundo meu comando.
E se precisamos passar por essa experiência mais uma vez na história, fico me perguntando o que isso pode querer nos ensinar como indivíduos e sociedade?
Não consigo deixar de pensar sobre o processo de ampliação de consciência segundo Jung: como nossas feridas afetivas (nossos complexos) comandam nossas ações no mundo enquanto não as curamos, deixando fluir do inconsciente (sombra) para a consciência (o eu) toda dor e divisão que nos tensiona e angustia. E a partir disso transmutar a energia. Não, não tem outro jeito. Quando entra a luz da consciência a escuridão aparece. E se não podemos olhar e aceitar em nós as contradições, os limites, as inconsistências e incoerências que nos habitam, projetamos nos outros, “os inimigos, imperfeitos e impuros” que não queremos ver dentro de nós mesmos. Não, não tem outro jeito.
Plutão em Aquário (2024 a 20244) é o oposto de Plutão em Capricórnio (2008 a 2024). EUA tem Plutão em Capricórnio e ainda está vivendo sob a vibração de seu retorno de Plutão, a 28 graus do signo. Plutão em Capricórnio foi o que vimos na posse de Trump, uma exibição de poder e dinheiro, plutocracia na veia. Travestido também de um Plutão em Aquário, mostrando ‘o lado feio’ da tecnologia, com seus bilionários avançando sobre o poder do Estado, fazendo do público, privado, e para seu próprio benefício.
Tem um lado meu que diz: Ufa! Até que enfim a sombra vem à tona para que possamos tomar consciência dela. Só que se Plutão em Capricórnio é a hierarquia, o poder, as grandes corporações e impérios, Plutão em Aquário quer o poder para as massas. As massas não atendidas em suas necessidades serão o motor das próximas transformações a que vamos assistir no mundo – e que se prestarmos atenção já estamos assistindo. Há manisfestações populares de diferentes apelos em dezenas de países neste exato momento em que escrevo.
Mas as feridas de amor dos que querem se agarrar ao poder porque é o que os faz sentir-se valorosos não vão deixá-los abrir mão desse lugar de poder sem muita guerra e um tanto de horror. Porque o Ego quer sempre vencer em sua demanda. E se não há o menor espaço para ouvir o que a alma quer, então o colapso é o destino final, da psique, que não suporta mais o peso do império do ego. E a ‘alma mudi’ está clamando pelo novo!!
Sim também serve para o coletivo. Quando há uma unilateridade de forças sem precendentes, na distribuição das riquezas, da saúde, da educação e do bem estar da população, a força reprimida quer também lutar por seu lugar ao Sol. Infelizmente, a maioria de nós, e portanto, nossa evolução coletiva como reflexo dos indivíduos que a lideram, só “muda quando a dor de viver é maior do que o medo da mudança” (Freud). É preciso um tanto de dor para que façamos de fato algum movimento em direção ao novo, sempre tão temido.
O mundo só vai de fato conseguir caminhar em direção a um novo jeito de funcionar, encontrar novos caminhos de habitar o planeta, quando o sistema que está ai já não tiver mais nenhuma possibilidade de resistir. Enquanto isso os ‘donos do poder” vão lutar. Quando vejo a Europa fazendo todo um movimento em direção ao rearmamento, reacendendo o fogo na guerra entre Rússia e Ucrânica, e quando vejo os movimentos do governo Trump/Musk nos EUA sinto como se ninguém estivesse entendendo nada.
Enquanto deveriam os governantes globais estar trabalhando para criar novas formas e caminhos para a humanidade, estão eles trabalhando para manter, com unhas, dentes e tanques, a velha ordem global – um império no ocidente, um império no oriente, um mundo rico explorador, um mundo pobre explorado, mais de 80% da riqueza produzida no mundo nas mãos de pouquíssimos, organismos internacionais de fachada que atuam mais para manter a velha ordem do que criar algo novo, o capitalismo… enfim. Mas a velha ordem global está morta. E para que o renascimento aconteça, ainda é preciso ruir muita coisa, como estamos assistindo, de maneira cada vez mais veloz.
Nesse contexto é fundamental que cada um de nós se pergunte. E eu? O que eu estou fazendo na minha vida para criar novos caminhos possíveis de viver? Como uma “nova ordem” pode ser estabelecida para mim, em mim, comigo e com os meus, no meu modo de viver?
Netuno no grau 29 de Peixes está dissolvendo em nós também algumas bordas, alguns contornos do ‘eu sou’ para que novos eus, com novos contornos de nós possam crescer. Está implorando que deixemos partes dos nossos egos colapsarem, desaparecem, derreterem… para que um novo ego possa nascer, mais alinhando com o Self, a alma, a totalidade psíquica de cada um. E isso é o oposto do fascismo.
Celebremos o declínio do império. Lá e cá, na intimidade de cada um de nós.