Conscientes. Inteiros.
A existência no planeta está ameaçada como nunca antes. Ainda que a história nos fale de momentos que possam parecer iguais à primeira vista, não são. Não houve outro momento na história da humanidade no qual tivemos tamanho abuso dos recursos naturais e humanos, ao ponto que assistimos hoje. A ONU acaba de declarar que algumas mudanças climáticas, fruto da ação do ser humano sobre o planeta, são irreversíveis. Irreversíveis!
O excesso está por toda parte, gerando, por enantiodromia, uma falta sem precedentes. Enquanto alguns bilionários se dão ao luxo de passear no espaço, a fome atingiu em 2020 quase 700 milhões de seres humanos, segundo dados da FAO. Fome! Não estou falando de educação, moradia, cultura… ainda… estou falando de 700 milhões de seres humanos sentindo a dor da fome!
Ontem vi um tweet do Bernie Sanders que dizia que 2 americanos tem a mesma riqueza que os 40% – cerca de 132 milhões de americanos -, mais pobres, juntos. 2 = 132 milhões. Na nação mais ‘rica’ do planeta! Ficou claro??
Me pergunto como é que chegamos a isso? Na era da informação, já não podemos nos desculpar com um ‘não sabia’. A informação está em todo lugar e com tantas horas dedicadas por dia a consumir informações, se não sabemos é porque não queremos saber. E aí está a questão. Por que razão não quereríamos saber se fazemos parte desse mesmo mundo?
‘Ah porque não posso fazer nada se não sou um desses bilionários’, alguém poderia responder…. ‘o problema não está em mim, mas no sistema econômico sob o qual vivemos’…. poderia argumentar outro… e outro ainda poderia dizer que ‘é uma questão de merecimento’ – seja por uma explicação ‘espiritual’ do que seja o carma de cada indivíduo ou por um entendimento ainda mais superficial e utilitário inventado pelo capitalismo de que tudo é uma questão de esforço… aiii meus sais!
Sim, estamos exaustos e lutando como nunca pela sobrevivência, o que tem nos feito cada dia mais egoístas e auto-centrados e esse tipo de reflexão demanda tempo e disponibilidade energética para tal. Entendo isso perfeitamente. Talvez por isso vamos nos entorpecendo mais e mais a cada dia, achando que de fato precisamos acumular mais, consumir mais, nos salvar (e f* -se o outro), esperando talvez que um milagre nos tire de onde estamos sem que tenhamos que fazer nada!
Mas se ainda não tínhamos entendido de fato até aqui, a iminência da impossibilidade de se viver no planeta Terra em muito poucos anos (depois de 2030 – 9 anos daqui – a vida vai ficar inviável em muitas partes do planeta e as previsões de migrações em massa por conta das mudanças climáticas já não são mais um talvez!), não nos permite mais nos escondermos do pensamento de que é urgente a mudança necessária. Sim, agora mesmo enquanto conversamos aqui.
Autoconhecimento. Conhecer-nos enquanto espécie, enquanto natureza que somos, reconhecer cada parte que nos compõe. Ampliar nossa consciência. Será que nessa altura do campeonato ainda não entendemos – na prática mesmo! – que quando ajo ‘nem aí para o outro’, a consequência é minha também? Que não tem o outro, de verdade?
A falência inequívoca da natureza talvez seja o que nos custe para entendermos isso? Seres racionais e materialistas que somos? Triste.
Precisamos do outro como espelho de nós mesmos. Por isso nos relacionamos. Gosto de pensar a vida neste planeta como um grande teatro, sem roteiro muito pré-definido, um grande teatro para e entre almas em (re) autoconhecimento.
Através da consciência de mim, que me relacionar com o outro traz, é que posso ser mais inteiro de mim mesmo. Sendo mais inteiros, mais pacíficos, amorosos e generosos acabamos sendo. Porque são nossos complexos, nossas dores reprimidas e não choradas, nossas feridas afetivas e de autovalor inconscientes, que projetamos nos outros enquanto nos relacionamos, e que causam tanto sofrimento, para todos. Sem percebermos que o que vemos no outro, são apenas partes não integradas de nós mesmos.
Quando vemos, integramos.
Postei a seguinte afirmação no instagram, perguntando o que sentiam: ‘achamos que queremos ser felizes, mas no fundo só queremos ter paz’. A grande maioria sente que quando a alma está em paz, ou quando estamos em paz com nossas atitudes, nos sentimos felizes. Eu acredito nisso.
E acredito que só podemos estar em paz com nossas atitudes, com nosso estar no mundo, quando escolhemos conscientemente sermos. Nós mesmos. Verdadeiros. Inteiros. Conscientes. Em paz.
E quando estamos em paz não queremos o mal de ninguém não é mesmo?
Que lindo esse texto.
Precisamos ser muito mais.
Olá Ryath, tudo bem? Muito obrigada por seu comentário! Nesse mundo em que a maioria quer fugir dos papos retos, é uma honra receber seu comentário nesse texto-desabafo. Um forte abraço e sigamos sendo muito mais! <3