criança mimada, adulto inseguro

Qual é o limite que separa o carinho, amor e cuidado dos pais com os filhos e o mimo excessivo que prejudica? Também não tenho uma resposta para essa pergunta mas acho que vale muito a reflexão.

Vejo no consultório – e na vida por aí também! -, muitas pessoas que tiveram uma infância de muito mimo – e não falo só de dinheiro não, mas também – e que tornaram-se adultos inseguros de si e suas capacidades, acomodados e dependentes, com muita dificuldade para amadurecer e tomar as rédeas da própria vida, ainda que estejam infelizes onde estão.

Estabelecer limites claros na educação traz segurança às crianças, que podem ser crianças, aventurar-se, burlar as regras, criar, sem se preocuparem consigo, pois tem a certeza de que alguém está cuidando delas, estabelecendo os limites seguros para elas atuarem. Eu acho muito triste ver uma criança que precisa colocar limites nos pais. E hoje em dia tem de monte!

Vejo muitos pais que, também inseguros na maioria das vezes, têm medo de colocar limites claros e exigentes na relação com os filhos, por medo de perderem seu amor. Também tem aqueles muito ocupados ou com preguiça de colocar limites, afinal educar é muito trabalhoso, sim! E então, com mimos e mais mimos, facilidades e comodidades vão criando seres com baixíssima capacidade de lidar com os obstáculos da vida, ganharem o próprio sustento ou que sentem-se frágeis e infelizes.

Quando fazemos pelos nossos filhos as tarefas que eles já dão conta de fazer sozinhos ou não exigimos deles que se comprometam com suas responsabilidades – adequadas à idade – mesmo que sem querer, estamos passando a mensagem de que não são capazes, de que não têm habilidade ou capacidade para enfrentar essa tarefa ou aquela exigência da vida. E é assim que eles se sentem na vida adulta.

Disso resulta, normalmente, muita raiva de si mesmos e também dos pais, por essa fraqueza e ‘fracasso’ na vida e muita dificuldade em lidar com os problemas da vida adulta, que buscam delegar a alguém, muitas vezes os próprios pais. Portanto, aquele pai que facilitou demais a vida do filho para ‘garantir’ seu amor, manter o controle, ou não ter trabalho, acaba recebendo de volta muita raiva, descontrole e mais trabalho. Como dizia minha avó: “filho pequeno, problema pequeno; filho grande, problema grande”

Também vejo alguns pais que, depois de mimar uma vida inteira e ver como resultado um adulto imaturo e incapaz de sair da zona de conforto da sua dependência, sofrem e se cansam de continuar carregando no colo e, de uma hora para outra os querem adultos, bem sucedidos e independentes. Então tornam-se duros, super críticos e com certo grau de desprezo por esses filhos “incompetentes”, sem estarem dispostos a fazer a autocrítica necessária, mudar de comportamento e contribuir para o crescimento, ainda que tardio, de seus filhos mimados. Ou outros ainda que não estabelecem limites claros e quando estão muito cansados ou não aguentam mais os filhos ‘sem limite’, perdem-se em gritos e violência, que são super prejudiciais para as crianças e adolescentes!

Um dos maiores sofrimentos da vida é assistir o sofrimento de um filho, não tenho dúvida. Mas sabemos também que o sofrimento traz uma dose enorme de reflexão que pode ser a chave para o crescimento e o fortalecimento daquele ser. Quando trabalhamos com nossas potências internas para superar algum obstáculo que a vida nos colocou, nos sentimos mais fortes e capazes de lidar com a vida como um todo, mais seguros, mais felizes, na minha visão.

Para uma criança pequena – notem que não estou falando de um bebê de poucos dias ou meses de vida, ok? – pode ser bem sofrido ter que aprender a dormir sozinha ao invés de dormir na cama dos pais, assim como para uma criança um pouco mais velha pode ser bem sofrido ter que respeitar os horários, as regras, ter responsabilidade com suas tarefas da escola, por exemplo… Mas entendo que são esses ‘pequenos sofrimentos’, propiciados pelos pais, que nos preparam para a vida adulta, que vamos combinar, pode trazer lições bastante duras e de razoável sofrimento né?

Apenas para dar um exemplo de como temos funcionado aqui em casa… sem querer ditar regras, porque cada família deve encontrar a sua melhor forma…

Nos acostumamos a ter DR’s – discutir a relação 🙂 – periódicas, onde estabelecemos combinados, direitos e deveres que são discutidos e negociados. Normalmente fazemos uma principal no começo do novo ano letivo, já que férias são sempre períodos de maior mimo e liberdade geral, onde estabelecemos os grandes combinados do ano, sempre levando em consideração a idade, ano letivo e as necessidades/reivindicações de cada lado! E ao longo do ano vamos fazendo pequenas conversas e revisões, sempre que necessário.

lousa do quarto onde escrevemos os combinados

Esses são os combinados deste ano para o meu filho, que tem 14 anos. Ele e eu sentimos que isso nos ajuda a termos menos discussões e desentendimentos, mais diálogo e uma convivência mais saudável. E ele sente que com isso garante mais liberdade e autonomia para administrar seu tempo, suas coisas e vontades! Aqui tem funcionado muito bem!!

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sobre o blog

Esse blog nasceu de um constante mergulhar em mim mesma e no universo ao meu redor.

Traduzir em palavras os sentimentos que me atravessam me ajuda a organizá-los e refleti-los.

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about the blog

This blog was born from the constant dive into myself and the universe around me.

To reflect into words the feelings that emerge, helping me to organize and translate them.

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