CARL GUSTAV JUNG (1875-1961)
Minha vida é a quintessência do que escrevi e não ao contrário.
O que sou e o que escrevo são uma só coisa.
Todas as minhas idéias e todos os meus esforços, eis o que sou. Jung
Carl Gustav Jung nasceu na Suíça em 26 de Julho de 1875, sob o signo de Leão, elemento FOGO. De personalidade introvertida, conta sua vida no livro Memórias, Sonhos e Reflexões, sua autobiografia escrita aos 83 anos, menos por fatos do que por sentimentos, pensamentos, sonhos e reflexões a respeito da vida, do mundo e de Deus, desde muito pequeno. Passava horas brincando sozinho e teve muitos momentos de intensa solidão.
O primeiro sonho de que Jung se recorda, relatado no Memórias, aconteceu quando ele tinha mais ou menos 3 anos de idade!
Filho de um pastor protestante, que segundo Jung tinha muita dificuldade com a fé, a relação com Deus e os dogmas que não tinha coragem de enfrentar, Jung teve na religião e espiritualidade forças de grande influência na sua vida e obra.
A vida toda de Jung foi marcada por símbolos e imagens do inconsciente, brincadeiras rituais que criava, ainda sem um significado razoável, além da marca e alento emocionais que deixavam no menino, já profundo no acesso às imagens do seu mundo interior.
A relação com a mãe deu grande suporte a essa natureza de Jung. Foi ela quem contou a Jung as primeiras histórias sobre religiões exóticas que tanto o fascinaram e foi também a mãe que estimulou Jung a ler o Fausto de Goethe, quando na adolescência ele teve uma visão que trouxe à tona com muita força o conflito entre os dogmas paternos e o Deus libertário que sentia dentro de si.
Quando Jung tinha 4 anos mudou-se com a família para Basiléia, um dos mais importantes centros culturais da Europa na época, e lá viveu até 1900 quando mudou-se para Zurique, já formado, então com 25 anos, para assumir o cargo de segundo assistente de Eugen Bleuler, um dos maiores psiquiatras de todos os tempos, no hospital Burgholzli.
A decisão de Jung pela medicina, assim como pela Psiquiatria, mais tarde, deu-se em processos interessantes, que reafirmam seu tipo introspectivo intuitivo.
Jung tinha muitos interesses diferentes, dentre eles a arqueologia, as ciências naturais e a história das religiões e não sabia que profissão seguir. Em meio ao processo de escolha, sentiu uma grande inspiração pela história do avô médico e professor na Universidade da Basiléia de quem herdou o nome, e acabou optando pela Medicina. Quando estava no quarto ano da medicina, todos achavam que Jung seguiria a clínica médica, já que contava, inclusive, com um convite do seu professor para ser seu assistente. Mas estudando o manual de psiquiatria para o exame teve uma intuição profunda ao ler a definição “doença da personalidade” para psicose.
De repente, meu coração pôs-se a bater com violência. Precisei levantar-me para tomar fôlego. Uma emoção intensa tinha se apoderado de mim: num relance, como que através de uma iluminação, compreendi que não poderia ter outra meta a não ser a psiquiatria. Somente nela poderiam confluir os dois rios do meu interesse, cavando seu leito num único percurso. Lá estava o campo comum da experiência dos dados biológicos e dos dados espirituais, que até então eu buscara inutilmente. Tratava-se, enfim, do lugar em que o encontro da natureza e do espírito se torna realidade.
(JUNG, 1961, p. 104)
Entre 1900 e 1913, Jung trabalhou e estudou incessantemente, publicando seus estudos. A partir de 1906 Jung e Freud, de quem Jung já havia lido a Interpretação dos Sonhos, passaram a se corresponder regularmente, dividindo suas descobertas e pensamentos. O primeiro encontro entre os dois aconteceu em 1907, quando Jung, com 32 anos, viajou até Viena para encontrar Freud, então com 50 anos. O célebre encontro de 13 horas ininterruptas de conversa gerou uma profunda admiração entre ambos e uma intensa colaboração nos 5 anos seguintes.
Ao longo desse período, várias situações mostravam haver, entre eles, discordâncias profundas que estavam na base do pensamento e visão de mundo, sendo Freud um positivista convicto enquanto Jung mostrava vasto interesse pelos fenômenos não explicados pela ciência determinista, juntando-se aos pensadores que começavam a questionar a visão mecanicista do mundo, predominante até então.
Em 1913, com a publicação de “Metamorfose e símbolos da libido” (nas Obras Completas intitulado Símbolos da transformação), onde Jung expõe seus conceitos de energia psíquica como energia vital e a existência também de uma camada de inconsciente chamada de inconsciente coletivo, em expressa discordância com os conceitos de Freud de energia psíquica exclusivamente sexual e o inconsciente apenas individual como resultado de desejos reprimidos, Jung e Freud romperam definitivamente e nunca mais se falaram.
Jung tinha então 38 anos de idade e já tinha construído posição destacada no campo profissional e científico e era bastante procurado em seu consultório particular.
Nesse momento ele resolveu romper também com a Associação Psicanalítica Internacional da qual era presidente, assim como abrir mão de sua carreira universitária, seu caminho estabelecido, para ter a liberdade de evoluir no seu processo de individuação e no aprofundamento da sua teoria psicanalítica.
Nos próximos 48 anos até sua morte, em 1961, aos 86 anos, Jung publicou intensamente e viveu sua vida em acordo com a sua teoria, atendendo e ensinando a sua Psicologia Analítica.