tenho marido*, sou rica, famosa, magra, mãe… são várias versões desse título.
Não raras são as vezes em que confronto alguém no consultório com a seguinte questão: ok, e se um gênio da lâmpada te oferecesse a possibilidade de ser feliz, ainda que o pacote não incluísse um marido, te interessaria? Ou não incluísse ser famoso, ou ser rico, ou ser magra te interessaria? Principalmente quando tenho à minha frente alguém que está se queixando do sofrimento que sente por não ter aquilo que ela deseja.
E na maioria disparada das vezes, a primeira resposta que vem é ‘Não, não me interessaria’. E eu argumento, ‘mas o pacote inclui a garantia de que você seria feliz’… a pessoa pensa um pouco e um pouco menos assertiva, continua respondendo que não, não aceitaria o pacote. Porque ela só quer ser feliz se o seu desejo específico for atendido.
Nessa hora eu me pergunto, o que queremos afinal? Porque seja lá o for que queiramos que venha no pacote… me espanta que não consigamos abrir mão dos nossos desejos, mesmo que eles não estejam trazendo ou não possam trazer de verdade, alegria, conforto, paz de espírito, felicidade.
Vivemos nesse mundo em que parecer feliz é mais importante que ser feliz de fato, né? A imagem idealizada, moldada pela mente coletiva, do que é ser feliz. Só pode ser isso que está por traz desse apego aos nossos desejos imediatos – a ideia de que eles nos trarão felicidade, ou de que pareceremos felizes e realizados perante o mundo.
E se estamos dispostos a abrir mão de ser felizes se não tivermos aquilo que desejamos, então é porque o que nos interessa de fato não é ser feliz, mas parecer feliz, certo?
E assim vamos jogando no lixo a existência; as infinitas possibilidades de realização e de uma vida simples e nutridora, prazerosa e cheia de verdade e crescimento, simplesmente porque não parecem realizadoras e de sucesso.
* Livro de Viviana Gómez Thorpe, publicado originalmente na Argentina em 2000.