Gente que nunca se posicionou na vida, se posicionou nessa eleição. Gente que tinha um medo incrível de se expor, se expôs. Máscaras definitivamente caíram e ante tamanha brutalidade da decisão à que fomos colocados frente a frente, nos posicionamos. Mesmo os que acreditam que não escolheram, escolheram.
No consultório foram semanas muito, muito intensas mesmo. Quantas pessoas chegavam e diziam, não faz o menor sentido falar de mim. É preciso falar do todo. Das eleições. Do que significa tudo isso num nível mais profundo, filosófico, espiritual?? Foram dezenas de sessões super profundas. Tocando pontos que nunca haviam sido tocados antes em alguns processos.
Fazer terapia junguiana é querer tocar pontos profundos do ser. É, como propõe Jung, trilhar um caminho em direção ao SELF, que não é nada fácil, pois é sair cada vez mais de si mesmo e adentrar cada vez mais o Si Mesmo. Duas direções. Que podem parecer opostas mas são complementares em cada mínimo aspecto.
Que o envolvimento de cada um em doses mais intensas na polis seja resultado do caminho de desenvolvimento interno e social ao mesmo tempo. Se a sombra coletiva vem à tona nesse momento, também aparece a sombra individual. E se tem alguma coisa que sei com ‘all my hart’ é que a ferida só pode ser curada se desfeitos os curativos/paliativos, ou seja, nossos mecanismos de defesa que escondem nossa sombra, nossos medos e raivas, mas também nossas potências.
Então, por mais dolorido e difícil que seja enxergar nossas feridas e potências, não há outro caminho. Como ouvi de alguém com quem dividia minha dor, num certo dia em que me debulhava em lágrimas pela dor do confronto com uma ferida infantil muito profunda, nas minhas palavras,… ‘todos queremos paz, todos queremos nos sentir bem, falar com Deus… mas poucos de nós estão dispostos a passar por esse lugar onde você está agora, que é muito dolorido e desesperador… mas não há outro caminho para lá.’
Então, que essa eleição tenha sido o descortinar de nossas verdadeiras feridas e sombras. E que a partir da dor profunda que podemos estar sentindo hoje, possamos encontrar nossas potências. Para resistir. Para espalhar mais amor. Para curar nossas dores. Para manter nossa capacidade de nos alegrarmos com as ‘cotidianices’ da vida, como disse Eliane Brum aqui.
Sigamos! <3