Era o dia da minha morte. Eu sabia que ia morrer e ela viria assim no final do dia como acontece com a bateria do celular, aos poucos diminuindo, diminuindo até chegar ao fim.
No comecinho daquele dia eu entrei numa joalheria e estava apaixonada por um brinco muito delicado e lindo, em ouro e pedrinhas de diamante, bem pequeno, com um símbolo astrológico que não consigo me lembrar.
Pensei mas se vou morrer, porque vou comprar esse brinco? Pensei em seguida, não importa que vou morrer, vou me dar esse prazer, essa beleza e encanto, porque afinal ainda estou viva e enquanto tiver vida vale a pena viver. No prazer e beleza de estar viva!
Em seguida me despeço da minha mãe. Um abraço muito forte e apertado. Lágrimas de gratidão e amor rolando sem parar. E digo à ela muito obrigada por tudo que vivemos nesta existência. Por todo o amor, por todos os momentos difíceis e doloridos. Por tudo mesmo! Já entendi há muito tempo que só ela poderia ter sido minha mãe nessa existência. Hoje sinto isso com todo meu coração.
Eu sentia paz. Em nenhum momento senti medo ou raiva ou pena. Estava absolutamente tranquila para entregar-me à morte, assim como me entrego à vida.
Assim acaba o sonho.
Depois, escrevendo o sonho no meu caderno de sonhos (hábito diário há muitos anos!), senti muito por essa morte, se ela fosse real. Porque acredito na imortalidade da Alma, mas acredito que esse conjunto de ideias que nessa vida eu escolhi para ser essa Ana Luiza que sou, nunca mais – ou possivelmente nunca mais – existirá. Outras eu’s virão. Mas essa não mais. E por um momento pensei que pena que eu tenha perdido tanto tempo sendo quem eu não sou. Ao invés de realizar toda minha potência e colocar no mundo tudo aquilo que, tenho certeza, essa eu que sou veio para entregar.
E não apenas eu. Acredito de verdade que cada um de nós veio com um algo muito especial e único para entregar a esse mundo. Mas perdemos muito tempo querendo ser amados, aprovados, encaixados. E nesse processo vamos deixando nosso verdadeiro eu, nossa jóia rara, perdida, abafada, entristecida no escuro de ser quem não somos.
Agradeço profundamente a esse sonho que tive no inverno, tempo do morrer! Pois começo a primavera, mais uma vez, com meu ânimo (que vem de Ânima = Alma) completamente renovado para colocar meu eu no mundo! Espero ter novamente a coragem necessária para o próximo passo dessa existência! Amém!