E temos a coragem de obedecer…
Não é a primeira vez que passo por uma experiência assim, mas essa, especificamente, eu quero dividir com vocês!
Antes de contar-lhes… O Self representa nossa totalidade psíquica, o si-mesmo que somos, nossa Alma, segundo a psicologia analítica criada por Jung. ‘Ele fala’ conosco, muitas vezes, através de sonhos, intuições e sincronicidades – aquela voz que tantas vezes sussurra para nós o caminho a seguir.
Então, vamos à história…
Fazer ou não um Mestrado é uma questão para mim há bastante tempo. Eu gosto muito de estudar, mas tenho muita resistência à forma como a academia funciona, mais especificamente no Brasil, e ao método e pensamento cartesianos dominantes ali, sobretudo no que diz respeito ao estudo das ciências humanas.
Ao mesmo tempo, por gostar muito de estudar e ter uma característica de autodidatismo, passei minha vida toda estudando. Tenho graduação em Ciências Econômicas, uma quase graduação em Psicologia, especialização em Psicologia Analítica e em Comunicação e Marketing, estudei Psicologia do Feminino, Gnose e Esoterismo, Filosofia, Astrologia… mas não tenho um título de Mestre que me permita, por exemplo, dar aula em cursos formais, seja graduação, especialização ou pós-graduação…. E o mundo exige essa formalização e titulação… por isso muitas vezes entrei em conflito… fazer ou não um Mestrado?
E eu tentei algumas vezes, mas nunca funcionou. Talvez eu não estivesse pronta, talvez a vida tenha me desviado do caminho, talvez o Self nunca tivesse se apresentado nesse caminho para mim… talvez…
Desde 2019 essa questão virou uma super questão para mim, por algumas razões que um dia eu conto. Fazer ou não fazer? Fazer apenas pelo título? Me conheço e sei que não consigo fazer algo se minha alma não estiver ali por inteiro… questão discutida infinitas vezes em terapia, inclusive. Fui fazer outra especialização, agora em Psicossomática…
Mas… no início deste ano algo mudou.
Conheci minha hoje orientadora do Mestrado, ano passado, num grupo de estudos do qual fazemos parte. Apesar do nosso primeiro contato não ter sido dos mais ‘amorosos’ vamos dizer assim, por uma gafe total minha – sim eu tenho um péssimo defeito de, muitas vezes, falar antes de pensar, de deixar que meu pensamento rápido saia pela minha boca tipo ‘pá pum’ e quando vi já falei – por favor atribua a meu Mercúrio em Gêmeos (pensa rápido) na casa 7 (o outro/espelho) em oposição (tensão) à Marte (planeta da guerra e da ação) na casa 1 (eu) – ela é uma geminiana super generosa e bem resolvida e quando mandei uma mensagem me desculpando, mais tarde naquele dia, ela prontamente me desculpou. Ufaa!
Bem… no início deste ano ela mandou uma mensagem no grupo de whatsapp do grupo de estudos dizendo que tinha uma vaga para mestrando com ela caso alguém tivesse interesse… essa mensagem mexeu comigo! A essa altura eu já a admirava pacas por suas colocações e discussões no grupo! Mas, como eu estava no meio de um turbilhão familiar naquele momento eu não pude nem pensar em responder…
Um dia em Fevereiro, de repente, me lembrei daquela mensagem e sem pensar muito mandei uma mensagem para ela… caso a vaga ainda estivesse aberta gostaria de conversar. Ela logo me respondeu dizendo que aquela vaga não tinha mais, mas que podíamos marcar um café anyway para trocar ideia. Enquanto isso, ela disse, dê uma olhada no site do meu grupo de pesquisa para ver se te interessa…
E eu entrei, naveguei por ali, até que me deparei com um texto dela, em conjunto com uma outra professora, fazendo uma crítica ao método cartesiano nas ciências humanas e propondo um ‘método iniciático de conhecer o imaginário’, juntando Edgar Morin e Jung, entre outras referências! Lendo o texto, lágrimas brotavam sem parar dos meus olhos. Eu não consegui parar de chorar por mais de 1h depois de ler o texto! Algo me tocou tão profundamente naquele texto que escrevi para ela quase como uma criança que está desesperada para contar para mãe sua nova descoberta – não sem medo e vergonha, mas era mais forte que eu aquele movimento. Como alguém de dentro da academia podia estar falando de maneira tão brilhante sobre algo que sempre senti?? Fiquei apaixonada…
Nossa primeira conversa, marcada e depois remarcada por ela por questões de horários lá da Universidade, aconteceu num dia astrologicamente muito significativo no meu mapa astral. Sim eu sou dessas que acompanha astrologia diariamente e ‘obedece’ sempre que pode o que o Céu está apontando… E foi incrível! Senti (mos) uma afinidade e comunhão de pensamento imediatas. Saí dali completamente bagunçada… como assim, a essa altura (tenho 53 anos) eu estava pensando em encarar um Mestrado? Numa Universidade paga? Eu não tenho tempo, eu não tenho dinheiro, eu não sei nada sobre a Academia, eu não vou conseguir escrever ‘cientificamente’… e ao mesmo tempo… eu quero MUITO trabalhar com essa mulher, encontrei alguém com quem sinto que poderei trocar MUITA coisa… pensamentos que passavam pela minha cabeça como um turbilhão… dentro de mim tinha um misto de excitação e medo, de vontade e desespero… Naquela noite eu tive um sonho muito significativo! Mas que eu não consegui entender completamente…
Ela me convidou para frequentar algumas aulas para sentir e irmos conversando. Ajustei alguns horários no consultório e assim fiz. E os conflitos não paravam. Adorava as aulas, ao mesmo tempo que a carga de leitura (e o formato científico) estavam super sendo um desafio para mim. Mas pensei… ok, vamos indo e vamos vendo onde isso vai dar…
Meu primeiro semestre de 2022 foi muito turbulento com várias questões familiares e pessoais: cai doente (coisa rara de me acontecer) em Abril; meu filho, que entrou na Universidade neste ano, enfrentou algumas questões importantes, na família etc. De maneira que fui tocando meio sem pensar, sabe? Achando que só teria que decidir alguma coisa no final do ano quando viesse o novo processo seletivo… Só que não… no final de Abril fiquei sabendo que haveria um processo seletivo em Julho e que a prova e entrega de projeto seriam em Junho. O quê?? Eu tinha menos de 60 dias para estudar para a prova e escrever um projeto de Mestrado do zero?! Além de ter que montar meu currículo Lattes também do zero… impossível eu pensava!
O que fazer? O desafio parecia grande demais, mas quando pensava em largar mão, algo dentro de mim não me deixava… Dividi a angústia com minha possível orientadora, que dizia, que nada, você consegue… com amigas íntimas que me ajudaram muito, muito mesmo! Longos telefonemas né Tais?? <3 Especialmente minha querida amiga Priscila, que me ajudou com bibliografia, com mais de um telefonema de horas quando eu estava em absoluta crise existencial em relação ao projeto e que ela me ajudou a direcionar, e ainda com uma revisão tão detalhada e profissa do projeto final que eu juro que não esperava! Ainda mais estando também ela no meio de um turbilhão, defendendo o Mestrado e prestando o Doutorado! Amigas né? Amorrr infinito! <3
Por fim, projeto entregue, currículo Lattes entregue, prova feita. E eu ainda pensando, nem sei porque estou indo fazer esse Mestrado. A essa altura da vida? No que vai agregar à minha vida profissional? Afinal amo ser psicoterapeuta clínica e meu consultório vai muito bem, obrigada! Vou mesmo ter coragem? Vou mesmo investir esse dinheiro (que não tenho)? Mas sentia… sigamos…
Conversando com a secretária da pós-graduação fiquei sabendo que só haveria 1 bolsa para este semestre. Ou seja, caso não passasse em primeiro lugar, teria que pagar o Mestrado. Valor que, hoje, não teria como bancar da minha renda mensal. Teria que sair da minha parca poupança, ‘para a velhice’. Aiii meus saissss! Mas pensava, ok, vamos indo e depois você decide. Afinal, só precisaria tomar essa decisão depois de 08/08 quando o resultado saísse. Trabalho insano (e interessantíssimo) de juntar tudo que já fiz nessa vida profissional de mais de 30 anos para colocar no Lattes! 🙁
Na segunda dia 08/08 recebi um email da secretaria com o resultado do processo seletivo para bolsas. Eu em segundo lugar. Putz! Fiquei arrasada. Pelo menos se tivesse passado em décimo… mas em segundo!? Que M.!
Mas eis que, na terça-feira dia 09/08 veio outro email da secretaria retificando a mensagem de segunda. A lista tinha sido passada em ordem alfabética e não em ordem de classificação! E eu era a primeira colocada!! Não! Será que é verdade esse bilete??? eu pensava… Aguardei a quarta-feira, começo das aulas, e fui pessoalmente até a secretaria para ter certeza daquela informação. E não é que era verdade??
Gente, gente, como assim??? Não estou me cabendo de alegria. Pelo primeiro lugar? Sim, claro! Pela bolsa? Clarooo super super…. mas, de verdade, é por muito mais do que isso. Ter conseguido essa bolsa foi para mim a coroação de um processo que exigiu muito de mim. Estudos e dedicação? Também, mas não foi o principal. Para mim é como se a vida estivesse me mostrando ‘cristal clear’ que esse caminho quem definiu foi o Self. Eu fiz a minha parte? Sim, claro. Mas acredito que a minha parte mesmo foi apenas ter coragem de ouvir o comando do Self e a humildade de atender!
Onde esse caminho vai me levar no futuro eu realmente não tenho muita ideia ainda. Mas tenho certeza que será algum lugar onde minha alminha quer passar!
Como eu já disse em outros textos, sinto que quando temos a coragem de dar passos em direção ao que o Self está nos pedindo, bênçãos são derramadas para coroar o processo. É assim que estou me sentindo e por isso quis dividir com vocês.
Que cada um aqui se sinta inspirado a seguir o seu chamado. “Coragem é o que a vida quer de nós”, como já disse Guimarães Rosa! Coragem, queridos. Coragem!
📷 quadro de Hilma af Klint em exposição no Guggenhein Museum in NY, 2018