queridos pais e mães, por favor, cuidem das suas vidas

Sei que o título pode ser lido como polêmico mas não é a minha intenção. É um pedido de verdade. Por amor, cuidem das suas próprias vidas além de cuidar dos filhos.

Eu sempre digo que estou numa posição muito privilegiada e por essa razão me dou ao luxo de falar o que penso, o que sinto, o que reflito…. Além de amar o que faço, estar no consultório me permite observar a vida por muitos diferentes pontos de vista, e eu a-do-ro esse exercício de tentar abarcar o maior número de pontos de vista possível sobre um algo e então sentir qual é o meu. E é ele que compartilho por aqui.

Tenho visto com muita frequência – na semana passada explodiu no consultório essa questão – pais e mães que têm se dedicado demais ao cuidado com a vida dos filhos e muito pouco a suas próprias vidas. Minha vontade de escrever vem a partir da observação de conflitos, dores e dificuldades sob os pontos de vista de um casal com filha de 2 anos; um pai casado, com filho de 2 anos; mais de uma menina de 20 e poucos anos na universidade; etc. etc. etc.

Já falei sobre os “filhos mimados, adultos inseguros” em outro texto. A raiz da questão é a mesma, mas meu ponto aqui é como pais e mães têm tido tanto tempo para cuidar dos filhos e tão pouco para cuidarem de si mesmos? Como seres humanos fadados à força da ‘enantiodromia’ – um termo criado pelo filósofo Heráclito, e bem estudado por Jung, para o conceito de que uma grande força em uma direção gera uma força no sentido oposto -, vejo um certo excesso de dedicação aos filhos que parece aumentar a cada geração mais recente. E, sob a minha observação, as consequências nos processos psíquicos de filhos, mães, pais e casais têm sido bem dolorosas. (talvez como a maioria, mas esse é outro papo!)

Como mães e pais, termos nossa própria vida e cuidarmos dela, com interesses, projetos, amigos, viagens, estudos etc. faz um bem danado aos nossos filhos também. Costumo brincar que a dedicação aos filhos deve ir caindo proporcionalmente entre 100%, quando chegam em casa no pós-parto, até quase 0%, paulatinamente ao longo da vida. Cai menos rapidamente no início e depois vai acelerando…

Me lembro de uma conversa que tive com meu filho um dia, quando ele tinha perto de 8 anos e eu estava namorando pela primeira vez desde que tinha me separado do pai dele, portanto, era a primeira experiência dele em dividir a mãe seriamente. Era um domingo e ele estava super irritado, manhoso, implicando com tudo e não querendo participar do lindo dia de sol no jardim, bola, biquini, comidinhas etc… Fui ao quarto dele e carinhosamente conversei. Eu disse algo mais ou menos assim “filho, eu sei que nessa altura da sua vida vc queria sua mamãe só para vc, mas logo logo vc não vai querer mais, porque vc vai ter cada dia mais a sua própria vida… mas se eu não cuidar da minha vida agora, quando vc não me quiser mais na sua vida eu não vou ter a minha vida própria entendeu… daí não vai ser bom para vc e nem pra mim. Então vamos curtir juntos e tá tudo bem!” Depois de alguns minutos ele desceu, com outro humor e entendeu o recado.

E é assim quando viajo sozinha ou quando ele vai de férias com o pai dele, quando eu faço os meus próprios programas e ele os dele. E olha que sou uma mãe super presente e cuidadora na minha opinião. Mas faço questão de cuidar da minha própria vida. Desde sempre! Quando ele tinha 3 anos, fiz minha primeira viagem internacional longa e ele ficou. Dei a ele um mapa mundi para ele me acompanhar pelo mapa e deu tudo muito certo. Para mim e para ele! Coincidência ou não ele adora mapas até hoje e sabe muito de geografia! <3

Sinto que também foi um aprendizado para mim, ao longo do caminho. Brinco que estamos o tempo todo correndo atrás deles porque eles já mudaram e nós ainda os estamos tratando como na fase anterior do jogo. Vocês sentem isso também? Daí eles vão fazendo os movimentos de crescer e nos colocando limites. E nós temos que ficar o mais atentos possível para seguir o fluxo e ir nos retirando. Faz sentido isso para vcs?

E aí reside um novo problema do ‘modelo’ moderno de criar os filhos. Como os pais são ‘muito legais’ não tem ‘razão’ para cortar o cordão umbilical, chutar o pau da barraca. Mas existe uma razão primordial para esse ‘rompimento’ no momento certo da vida, paulatinamente até o dia ‘final’, o chamado psíquico natural e anímico de ser você mesmo. Independente dos pais, inclusive.

Precisamos aprender a ser indivíduos. Inteiros. Com vida própria. Pais e Mães, façamos isso pelos nossos filhos, please?! <3

p.s.: eu adoro essa foto com os meus irmãos em 1974, quando eu tinha 5 anos, João Paulo 7 e João Theodoro 10! <3

inscrever-se
Notify of
0 Comentários
mais novos
mais velhos mais votados
feedback em linha
ver todos os comentários

textos especiais nos equinócios e solstícios por email? Assine.

nunca compartilharemos seus dados

0
deixe seu comentáriox

sobre o blog

Esse blog nasceu de um constante mergulhar em mim mesma e no universo ao meu redor.

Traduzir em palavras os sentimentos que me atravessam me ajuda a organizá-los e refleti-los.

Perguntar-nos ‘Quem sou eu?’ é pra que estamos aqui! E eu espero te inspirar a explorar esse tema.

about the blog

This blog was born from the constant dive into myself and the universe around me.

To reflect into words the feelings that emerge, helping me to organize and translate them.

To ask ourselves ‘Who am I?’ is what we are here for! I hope this blog inspires you to explore it.