Todos somos consciência e inconsciência, corpo e alma, mente e coração, carne e espírito, matéria e transcendência, feminino e masculino, Ego e Self…. Dualidades que se apresentam em nós a partir do filtro da existência neste planeta. Integrar as dualidades em si, integrar-Se é o maior desafio do viver.
Nascemos alma e formamos corpo à medida que constituímos o Ego, esse personagem que nos tornamos no processo de viver, nos adaptando para sobreviver, para sermos amados, para pertencer. E para que sigamos em direção à integração das nossas dualidades contraditórias e nos façamos Ser, é preciso consciência: da casca, dos processos adaptativos, das feridas afetivas que nos moldam, de nós e dos outros…
Esse processo é duro. Tem muito choro, muita luta. É construção bonita e corajosa do Si Mesmo que somos. E só isso nos permite a cada momento nos sentirmos mais confortáveis na nossa própria pele, mais pertencentes a nós mesmos, mais em paz, menos defendidos, menos agressivos, mais generosos e empáticos.
Mas poucos de nós quer de fato esse caminho. Ou tem a coragem necessária para empreendê-lo. Queremos ‘ser felizes’ mas não queremos pagar o preço. Não queremos correr os riscos necessários. Não queremos ter o trabalho de realizar os chamados anímicos. A maioria de nós tem medo de perder: o status, os amores, os bens…
E quando não temos coragem de seguir no caminho da integração do Ser, da consciência, dos chamados da alma, ela grita. E nos incomoda. E temos que fazer cada vez mais esforços para continuarmos a ser a caricatura de nós: aquele Ego que construímos e ao qual nos apegamos por medo, por comodismo, por ilusão… Precisamos controlar a vida, as pessoas, as ‘verdades absolutas’ que convém à nossa imagem de nós.
Assim seguimos na vida como ‘fake people’, uma imagem borrada e mal acabada de nós mesmos.
É aí que entra nossa necessidade de acreditar em ‘fake news’ ou ‘fatos mentirosos’ ou ‘verdades fantasiosas’… Pois o espelho machuca. A alma incomodada precisa ser calada. E qualquer um que traga verdades diferentes das que cabem para o nosso personagem vira um inimigo, pois representa a ameaça que escancara a fragilidade da imagem sustentada com tanta força e brutalidade.
Nascem então ‘franciscanos que defendem a pobreza dos outros para conservar seus bens’, ‘cristãos que defendem armas e a morte’ (dos outros, claro!), ‘cidadãos do bem’ apenas para si mesmos e sua turma… Seres cindidos e inconscientes de si.
Tentando calar a própria alma precisamos de um mundo paralelo, das ‘fake news’, das realidades fantasiosas, para que o mundo se mostre como nosso personagem gostaria que fosse, para justificar-Se. Pois encarar o mundo tal qual ele se apresenta demanda maturidade, verdade consigo e com o outro, consciência, abertura, flexibilidade psíquica, integração de Ser.
Nos desejo coragem!