Que fique bem claro que eu não gosto dele, não votei nele e não votaria jamais. Mas eu não sinto ódio por ele. E pretendo explicar meus porquês aqui, para reflexão… ou desabafo, talvez.
Que o brasileiro não é pacífico, não é bonzinho, não é inclusivo, simpático e amoroso, como canta o estereótipo, alguns de nós já sabíamos faz tempo, mas o fato de que muitos de nós só descobriu isso agora e também que foi só agora que o mundo todo soube dessa falsa imagem do brasileiro, devemos ao Bolsonaro. E perder a ilusão de que somos um país ‘legal’ é ótimo para nos encararmos de frente e, quem sabe, amadurecermos um pouco e termos a chance de, de fato, construir um novo futuro.
Podermos assistir, escancaradamente, a podridão dos desejos e projetos da burguesia do país, ainda que muitos de nós soubéssemos há tempos, nos exige parar de nos enganar e, nos dando um nojo maior a cada dia, nos convida a ver em nós mesmos, aspectos dessa mesma podridão em desejos e ações… e, pegando carona nesse texto maravilhoso da Elisa Lucinda, ‘então agora eu vou sacanear: mais honesta ainda vou ficar’… poderia ser um bom ‘efeito colateral’ dessa dor imensa que temos vivido, não? Quando somos obrigados a olhar para nossas pequenas corrupções, com tanta corrupção sendo exibida à ‘luz do dia’ e temos a coragem de nos perguntamos que P. é essa? Temos a possibilidade de enxergar que se não mudarmos em nós, não podemos apontar o dedo para a familicia. Well, devemos ao Bolsonaro.
Ter a clareza indubitável de que certa lei do nosso país, como tantas outras feitas exatamente para perpetuar a dominação das ‘capitanias hereditárias’, que permite que uma presidenta seja tirada do cargo democraticamente conquistado, sem crime de responsabilidade, e que um presidente com dezenas de crimes de responsabilidade e mais de 100 pedidos de impeachment não seja tirado, pois dependemos exclusivamente da ‘vontade política’ de 1 pessoa (no caso o presidente da Câmara), dentre todas as pessoas que representam a democracia, não funciona e precisa ser mudada para ontem. Devemos ao Bolsonaro.
Que as regras para a “eleição” dos integrantes de um dos tripés de sustentação da República e da democracia no nosso país – a saber o PGR e os Ministros do STF – precisam ser revisadas urgentemente para que não vivamos mais o desequilíbrio que hoje vivemos entre os poderes, com o ‘engavetador’ da República e os terrivelmente evangélicos que possibilitam que o Bolsonaro diga que “20% do STF é meu”. Também podemos agradecer ao Bolsonaro.
Que o fato do Brasil desinvestir propositadamente na educação de seu povo – e aqui não posso deixar de destacar especialmente a monocracia do PSDB no Estado de São Paulo nos últimos 20 anos – ainda nos colocaria num lugar péssimo, muitos de nós já sabia e sofria por isso. Mas ver que a deseducação básica do nosso povo não só colocou o Bolsonaro onde ele está – muito em função de fake news absolutamente inacreditáveis etc. etc. etc. – mas também nos prejudicou MUITO no combate à pandemia, assim como na vida cotidiana que enfrentamos… só agora fica claro de modo a não se poder esconder…
E eu poderia continuar gente… mas penso que já deixei claro aqui porque eu não consigo odiar o Bolsonaro, né?
Porque sabem, como me ensinou Jung, “ninguém se torna iluminado por imaginar figuras de luz, mas sim por tornar consciente a escuridão”. E isso alguém pode negar que Bolsonaro fez por nós? Eu espero, do fundo do meu coração que não precisemos, enquanto povo de uma nação tão abençoada, outra vez passar por tanta dor e escuridão para aprendermos o que precisamos aprender.
Vamos?? Coragem companheiros!!