Um determinado comportamento na nossa vida consciente, gera uma força oposta de mesma intensidade no inconsciente, como forma de compensação da tensão e manutenção do equilíbrio. Da mesma maneira, uma força inconsciente na psique vai gerar um comportamento oposto na vida consciente.
E mesmo que não percebamos, esses pares de opostos estão atuando todo o tempo e definindo nosso comportamento. São diferentes pares de opostos regendo nosso comportamento, e o objetivo é manter a unidade da psique em equilíbrio. A clássica estória de Robert Louis Stevenson, o Médico e o Monstro, traz uma metáfora perfeita para essa dinâmica: o médico perfeitinho e absolutamente dedicado durante o dia (consciente), na calada da noite (inconsciente) se transforma num violento assassino.
Mas como pode ser essa uma ideia de equilíbrio? Para a maioria de nós, a ideia de equilíbrio vem associada à expressão budista de ‘caminho do meio’; e essa imagem remete a algo como uma linha reta e perfeitamente equilibrada de comportamento que cada um de nós deveria seguir. E isso seria o correto a se fazer e qualquer outra coisa fora disso estaria ‘errada’ ou desequilibrada. Mas não é assim. Pelo menos não para Jung.Claro que um equilíbrio entre opostos radicalizados, ou seja, quando temos comportamentos unilateralizados, exagerados de um lado e de outro, não é exatamente uma forma saudável de estar no mundo. É apenas a dinâmica básica de funcionamento da psique quando não colocamos consciência no processo. Como assim? Tomar consciência de nosso eu no mundo, nossos comportamentos, nossa dinâmica entre opostos… Compreender o que nos constitui. Nossas dores, nossa história, os afetos que nos marcaram e constituíram a dinâmica entre opostos que nos é peculiar.
E ao longo do processo, construir uma nova dinâmica, um novo equilíbrio; não mais entre opostos radicalizados, mas dentre um círculo de possibilidades de ser e agir ao redor de um centro, um ponto de inteireza em si mesmo. Ser o todo que nos constitui. Ou como diria Fernando Pessoa “pra ser grande sê inteiro: nada teu exagera ou exclui”.